segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Novo RG (registro geral do cotidiano)

Novo  RG

Adentro o aparelho do estado , dirijo - me ao balcão onde a atendente me aponta uma placa escrita : Retire a senha e aguarde ser atendido . Vou ao local indicado escolho  o serviço que busco , aperto o botão a máquina grita  e cospe  um ticket  com a senha : E, quinhentos e oitenta e três  , enquanto aguardo no setor de espera observo impaciente o painel eletrônico apagando e acendendo mostrando os números de forma crescente indicar meu número ,finalmente sou chamado .Entrego a senha e o protocolo devidamente registrado ,a atendente entrega meu novo RG , nele consta o número do meu CPF,ela me recomenda para o guardá-lo  em um plástico próprio para documentos e ter cuidado .com um sorriso amarelo respondo para a simpática moça: Muito obrigado !Penso comigo de forma irônica agora não sou mais indigente estou documentado  :Valeu  estado ! 
Me retiro do órgão publico e decido caminhar para voltar ao  centro assim economizarei uns trocados ,esqueci o cartão  que contém os números que me permitiriam no transporte público uma integração ,subo a avenida caminhando , por uma questão de mobilidade resolvo cortar caminho por uma área nobre , logo percebo  a obstrução da paisagem ,guarita portão e vigia .O vigia  indaga : Vai para onde ? Mentalmente penso : Para onde eu quiser !Para não comprometer meu acesso respondo indagando : Quero só cortar caminho para chegar rápido ao centro .  É possível ?
Ele  anota meu nome e o numero do meu novo RG ,passa um rádio para a outra portaria e avisa que estou só de passagem .E quem na Terra não está ! Penso em silêncio .No trajeto em meio ao bairro de alto padrão observo as casas imponentes e seus muros altos, câmeras ,cercas elétricas e nas grades lanças. As ruas emanam um silencio sombrio ,diferente de onde moro onde nas ruas tem crianças e gritaria na saída do colégio . Neste mundo vigiado onde estarão as crianças ? Quais os medos escondidos atrás dos muros dos"castelos"? 
Em uma calçada percebo frutinhas vermelhas apodrecendo no chão  ao meu lado um pé de pitanga exuberante ,carregado .Coleto algumas e aprecio sua doçura e parto . 
Penso : Aqui a mesa deve ser farta  ou  as pitangas e sua doçura não devem ser adequadas  à casta que ali habita , afinal  não tem número de serie ,código de barra nem estão expostas com valores taxados na gôndola do supermercado ,simplesmente são pitangas .A árvore frutífera carregada,  abandonada à solidão é estranha para meus olhos . De onde venho , até a goiaba bichada é abocanhada ,e o bicho é proteína ,vitamina que engorda e faz crescer .Continuo meu caminho divagando em meus pensamentos ,logo avisto o portão de saída daquele ambiente fechado ,do qual nunca imaginei pertencer .Novamente  meu numero é registrado , agora para dar baixa .Um novo vigilante sorri e diz : RG novinho, acabou de sair do forno !Balanço a cabeça em sinal de agradecimento misturado ao meu sarcasmo ,cruzo o portão e sigo meu caminho .
Chegando ao coração central da cidade um cenário bem diferente se desenha ,avenidas congestionadas , carros em alta velocidade carregam vidas apressadas ,mal posso ver o número em suas placas ,percebo muitas vidas separadas por telas ,senhas, olhares distantes e cabisbaixos ,tão conectados a virtualidade mas tão desconectados da realidade  . É horário de pico ,no ponto lotado aguardo o coletivo cento e cinco ,onde embarco uma  plaquinha informa  a capacidade da carga humana abarrotada , cinquenta em pé  e quarenta e seis sentados  e nesta condição são dezessete quilômetros em quarenta minutos de trajeto ,o coletivo adentra o Bairro ,conto nove pontos e desembarco , agora são quinhentos metros mais ou menos até o numero seiscentos e dez, localizado na rua qual nunca lembro o CEP ,estou em meu refúgio .Dou duas voltas na chave introduzida na fechadura para porta abrir e eu entrar ,estou faminto e cansado ,seleciono  um número e sintonizo uma rádio que toca jazz,abro a geladeira observo o número  da regulagem do congelador retiro os alimentos e preparo um prato , no micro ondas aqueço minha refeição noturna em dois minutos de radiação .Observo o relógio : São vinte duas e trinta e oito  ,acabo minha refeição ,espero um pouco viajando na música ,tomo banho escovo os dentes e me deito .O sono demora a chegar ,recordo -me da antiga história sobre contar carneirinhos ;Vale tentar ! quinhentos e .....Logo perco a conta  e a paciência durante o processo ,resolvo mergulhar meu pensamento no cotidiano e na somatória dos números do meu registro geral ,enfim adormeço e antes de sonhar percebo que o produto final do registro geral será sempre :Nulo!

JM( divagando sobre a empreitada de buscar meu novo RG) 



 

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Anatomia de um sorriso.




O sorriso , branco ou amarelo

O Sorriso fonte de alegria 

O sorriso esconde o amor 

O sorriso camufla  a dor

O sorriso afasta os problemas

O sorriso trás dilemas 

O sorriso engana a mente 

O sorriso por mais que agrade 

O sorriso por mais que perfeito 

Sempre será suspeito pois oculta a face .







Labirintos


Percorro os labirintos 

Horas ate achar  saída

Mas esta uma nova entrada 

São outras ,Angustias 

Outra procura 

Outro momento 

Novas conclusões 

Novas decepções 

Que se perdem  em mim mesmo !





Percepções de Bar


Observando a corrosão .

Substancialmente química 

  Acondicionada  em um involucro plástico

Vejo a vida Liquidamente escorrendo  pelas narinas 

Enquanto se aspira o ar proibido

Tentando entender  o silêncio 

Em tão ruidoso ambiente 

Na madrugada  virada .

 Observo frações de Liberdade ,

Que se vão 

A bituca acessa no chão

O copo de cerveja choco na mesa

Revela excessos, alterando a percepção

Segundos de felicidade 

Horas de depressão

Dentes rangem,sem nada morder.

Pupilas dilatam -sem nada enxergar 

A Constante busca por  prazer ou  por uma rota de fuga 

Qualquer caminho  traçado 

Não removerão os espinhos  cravados

Observe o  relógio

Ponteiros  eternos carrascos 

Prefira estar só no momento 

Parta limpo antes que seja tarde 

Para  não cair na armadilha 

Que  a ilusão impõe constantemente 

Levante se  e se despeça 

Enquanto na mesa  do bar 

Ao som do blues 

A esperança morre a cada risco .






Ao mestre Bluseiro Clapton  , por falar musicalmente das armadilhas sociais e mentais  que luto não para  cair nos momentos de depressão  .

(rascunhada   num bar  na madrugada observando ao meu lado pessoas caírem a todo momento)






 






quinta-feira, 15 de setembro de 2016

MOMENTO VAZIO




MOMENTO VAZIO.........

TE DEDICO  UM MOMENTO VAZIO

ONDE OLHARES ,PASSEIAM  FACES , FOTOS E FATOS

NA BOCA ,PALAVRAS NÃO EXISTEM .

O SILÊNCIO CAMUFLA  DESEJOS

TÃO PRÓXIMOS , TÃO DISTANTES


ENTRE MUROS E PONTES 

CRIAMOS OS MOMENTOS  

MAS SEM ENTENDER 

 TORNAMOS -OS  VAZIOS 

SERÁ QUE EM UM INSTANTE QUE SEJA .

EM UMA BREVE RESPIRAÇÃO DE KRONOS *

CONSEGUIREMOS ? 

FAZER DOS OLHARES  

 OU DO  SILÊNCIO 

AS PALAVRAS   CERTAS

QUE PREENCHAM OS MOMENTOS VAZIOS

DA EXISTÊNCIA .



     *Kronos é o deus que encarna o sentido do tempo mas também se rebela contra ele.





quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Freitão O Periurbano

Freitão.

Roça ou periferia ?
Zona de transição
Distante da conurbação
Mudanças vão chegando
Asfalto cobre o chão
Sem poeira ,lama.
Sem taxa de infiltração
'O solitário"
Velho caboclo e sua rotina
Amanhecer na capina
No dedo de prosa ,sabedoria
No causo a alegria.
Mas a areia da ampulheta cai !
E um dia sempre chega
O beijo que não queremos.
A roça abandonada
A casinha fechada
E partiu para nunca mais voltar
O velho caboclo que com um aceno
Sempre me desejava bom dia.
Essa foi escrita para o velho Migué (Rip a um mes + ou -)vizinho e filosofo rural.
Em meio a conversa intelectuais massantes ,entendemos quanto é importante a quele dedo de prosa com gente que nos ensina muito mais na simplicidade da vida.